terça-feira, 30 de setembro de 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

REFLEXÃO: CAMINHOS DA CRISE

Ladislau Dowbor, economista, professor da PUC São Paulo, filho de poloneses nascido na França e radicado no Brasil desde os quatro anos. O pesquisador opina sobre o atual cenário conflagrado do capitalismo.

O senhor fala do paradigma da competição substituído pelo da cooperação na economia. Como se dá esse processo exatamente?

Ladislau Dowbor – Na base desse processo está a mudança radical da tecnologia. As pessoas não percebem que estamos provavelmente diante do processo de transformação tecnológica mais radical que a humanidade já viveu, o que tem duas dimensões fundamentais. Uma é a capacidade virtualmente ilimitada de estocagem de pesquisa, informação e conhecimento, um eixo cuja amplitude em termos de repercussão planetária está começando apenas. O outro, vinculado a este, é que a dimensão do conhecimento no conjunto dos processos de criação de riqueza se deslocou para conhecimentos técnicos e tecnológicos de diversos tipos. Quando se compra hoje um produto, quando muito, 25% são custos materiais, 75% são de pesquisa, estudos, publicidade, comunicação etc

Sempre que ocorre uma mudança econômica, ela vem acompanhada de um aparato ideológico. O senhor vê algo assim atualmente?

Dowbor – Hoje, há centenas de exemplos de coisas que estão funcionando sob esses novos paradigmas. Não apareceu O Capital da economia do conhecimento, o livro que mais sistematiza as transformações no horizonte é A Sociedade em Rede, do Manuel Castells. Atualmente, está mudando o conceito de economia do tempo, de territorialidade, o conceito de meios de produção, de infra-estrutura. Há diversos elementos que compõem essa mudança, mas quando se tem mudanças sistêmicas é prematuro querer fazer a teoria geral. Muita gente está fazendo a lição de casa e outros estão reagindo a isso.

Reproduzido da revista Fórum. Entrevista completa AQUI

domingo, 28 de setembro de 2008

FRONTEIRA ESPACIAL



Chinês faz primeira caminhada espacial


Em missão inédita para a China, a terceira potência na exploração do espaço, astronauta usa traje para sair de naveTelevisão estatal transmitiu missão ao vivo para todo o país, exibindo líderes do Partido Comunista que assistiam aos trabalhos


RAUL JUSTE LORES

DE PEQUIM

O astronauta Zhai Zhigang, 42, tornou-se ontem (Foto) o primeiro chinês a caminhar no espaço, ao deixar o interior da nave Shenzhou 7 na mais importante missão espacial da China. Ele desfraldou uma bandeira chinesa no espaço, com a ajuda de seu colega Liu Boming, que ficou na aeronave.O feito foi transmitido ao vivo pela rede estatal chinesa CCTV, às 16h40 de sábado (5h40 em Brasília)."Eu me sinto bem e saúdo o povo chinês e o povo do mundo", disse Zhai na transmissão.O presidente chinês, Hu Jintao, e outros líderes do Partido Comunista também apareceram na transmissão, assistindo à "caminhada espacial" a partir do Centro de Controle Aeroespacial de Pequim.Foram vinte minutos no espaço, usando um uniforme de 120 kg que custou US$ 120 milhões (R$ 222 milhões).

Reproduzido do diário Folha de S.Paulo 28 09 08

ESTADOS UNIDOS EM CRISE




Protestos contra plano de resgate
de governo norte-americano

WASHINGTON.— Uns 150 protestos foram convocados nos Estados Unidos rejeitando o plano de resgate dos bancos, impulsionado pelo governo do presidente George W. Bush.
Estas medidas também se realizam enviando milhares de mensagens eletrônicas aos congressistas, informou a agência Efe.

A ação simboliza a irritação de muitos contribuintes pelo desastre que causaram os magnatas financeiros do país, e reflete a repulsa à medida proposta pelo Executivo de utilizar US$700 bilhões do orçamento público para resgatar as entidades financeiras.

Por sua parte, diversos bancos centrais do mundo injetaram mais fundos aos mercados monetários, perante a incertidão de possíveis quebras e o que acontecerá com o denominado plano de salvamento da Casa Branca, informou a PL.

O Banco de Austrália anunciou a introdução de somas adicionais às de dias passados, enquanto o organismo regulador do Japão entregou quase US$30 bilhões na primeira operação de abastecimento de divisa norte-americana em sua história. Operações similares foram realizadas por autoridades monetárias de Hong Kong e do Banco Central Europeu.

No contexto de seu programa de ajuda à Reserva Federal, o Departamento do Tesouro norte-americano anunciou que captará US$60 bilhões suplementares dos mercados.

Notícia reproduzida de Granma Digital Internacional Cuba

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

DESAFIOS BRASILEIROS


Muitos problemas barram pleno desenvolvimento

POR WALTER GALVÃO

O presidente Lula bateu forte na política global de desenvolvimento durante reunião da ONU esta semana. A crise financeira deflagrada desde os EUA foi a chave para um pronunciamento em que a autoridade brasileira cobrou mais responsabilidade dos governantes dos países ricos para manter um cenário de equilíbrio. O impacto de crises como essa das hipotecas se derrama sobre a estabilidade conquistada a duras penas pelas economias em desenvolvimento.

O discurso crítico do brasileiro expressa confiança fruto de patamar de desenvolvimento nacional que capacita o país a protagonizar uma vanguarda continental na cobrança de soluções de problemas mundiais a quem pode realmente resolvê-los.

Mas tal situação confortável não nos habilita, entretanto, a minimizar a gravidade da situação ainda encontrável no cotidiano nacional no que diz respeito à superação de pontos críticos que continuarão, em persistindo, a emperrar uma decolagem satisfatória da nossa economia rumo ao céu estável da participação nas instâncias de decisão diplomáticas e do mercado mundial.

Os principais atoleiros em que patina a máquina vigorosa do nosso desenvolvimento: os brasileiros trabalham mais de cinco meses por ano para pagar impostos; 46% dos jovens brasileiros vivem em situação de pobreza; o analfabetismo entre jovens e adultos persiste num patamar acima de 12%; homens e mulheres do país passam mais de 11 anos doentes num contexto de expectativa de vida que chega aos 70 anos.

Estes focos de estrangulamento da vida dos brasileiros revelam a dimensão de um processo histórico de reprodução da pobreza que permanece deitado no berço esplêndido da concentração de renda. As reformas havidas no gestão do Estado e na legislação que regula a economia foram até agora insuficientes para suplantar a armadilha histórica do conflito distributivo. Mas o país está com a faca e o pão na mão pra fazer o sanduiche do espetáculo do crescimento prometido: o queijo do sucesso será fabricado a partir da mobilização crítica das forças sociais organizadas. Desenvolvimento é coisa séria demais pra ficar apenas nas mão do governo federal.

MUNDO DO TRABALHO

A democracia entrou na fábrica

POR LEONARDO BOFF

Indubitavelmente a democracia é o melhor modelo de organização poliitica que a humanidade já excogitou. No entanto, democracia que convive com miséria e exploração se transforma numa farsa e representa a negação da própria democracia.
Em todas as partes, se procura romper o pensamento único e o modo único de produção capitalista, inventando formas participativas de produção e abrindo brechas novas pelas quais se possa concretizar o espírito democrático. É notório que a democracia sempre parou na parta da fábrica. Lá dentro vigora, com elogiosas exceções, a ditadura dos donos e de seus administradores.

Recentemente, tive a oportunidade de assistir o exercício democrático de produção dentro de uma fábrica de cerâmica na cidade de Neuquén no sul da Argentina, na porta de entrada da Patagônia. Trata-se da Cerâmica Zanon, que pertencia a um grupo econômico multinacional, cujo dono principal era Luis Zanon, da empresa Ital Park, testa de ferro da privatização das Aerolineas Argentinas e um dos cem empresários mais ricos na Argentina. Este empresário, em 2001, estava prestes a decretar a falência da empresa. Chegou a demitir 380 operários.

Os operários resistiram. Todos os intentos por parte da polícia de desaloja-los foram frustrados. Os operários assumiram a direção da fábrica de forma democrática, organizaram a complexa produção de cerâmica, de alta qualidade, com maquinaria moderna de origem italiana. Decretada a falência em 2005, trocaram o nome da fábrica. Agora se chama “Fasinpat”(fabrica sin patrones). Democraticamente ajustaram os departamentos, introduziram a rotatividade nas funções para todos poderem aprender mais, fizeram parcerias com a universidade local. Não só. A fábrica não se reduz a produzir produtos materiais mas também cultura, com biblioteca, visitação de escolas, shows multitudinários no grande pátio, colaboração com os indígenas mapuche que ofereceram sua rica simbologia assumida na produção. Lá trabalham 470 operários produzindo mensalmente 400 mil metros quadrados de vários tipos de cerâmica de comprovada qualidade.
Como se depreende, a democracia pode sempre crescer e mostrar seu caráter humanizador.

Trechos de artigo publicado na revista Forum Global. Texto completo aqui.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

CORRUPÇÃO NA AMÉRICA LATINA


Combate à corrupção 'estanca' no Brasil,

diz Transparência Internacional


O combate à corrupção "parece ter estancado" no Brasil nos últimos anos, segundo o relatório anual da organização Transparência Internacional (TI), divulgado nesta terça-feira, 23.
O índice de percepção de corrupção – que reflete como cidadãos em diversos países vêem o combate a este mal – calculado para o Brasil permaneceu em 3,5 pontos, intocado em relação ao ano passado, em uma escala que varia de 0 a 10.
Segundo a ONG, a situação do Brasil é ilustrativa da regional: 22 dos 32 países da região incluídos no levantamento ficaram abaixo dos 5 pontos, o que indica problemas sérios de corrupção.
Destes, 11 sequer passaram dos 3 pontos, marco indicativo de corrupção desenfreada.
Em sua análise para as Américas, a TI qualificou os resultados como "tendência infeliz para a região nos últimos anos".
"Os esforços anticorrupção parecem ter estancado, o que é particularmente perturbador à luz dos programas de reformas de muitos governos", afirma o comunicado da ONG.
(Transcrição nesta terça-feira do site BBC Brasil)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

FEMINISMO E ALIENAÇÃO


Atração Fatal: Camille Paglia vê Sarah Palin

POR WALTER GALVÃO

Pensemos juntos a respeito do significado de uma declaração da escritora norte-americana Camille Paglia, incluída na lista dos cem maiores intelectuais do mundo. Ela afirmou à semana passada que Sarah Palin, candidata a vice-presidente dos EUA na chapa republicana, “representa a explosão de um novo estilo vigoroso de feminismo americano. Palin deu o maior passo para redefinir o papel de autoridade e liderança feminina desde que Madonna incorporou a personagem dominadora de Marlene Dietrich e enfiou goela abaixo do establishment feminista um novo feminismo pró-sexo e pró-beleza”.

Seria cômica se não fosse trágica tal declaração. Religiosa, extremamente conservadora, campeã das intenções de voto das chamadas “mães do Wal Mart” (eleitoras brancas, classe média baixa, acima de 40 anos, conservadoras e com problemas econômicos), militante contra o aborto mesmo que a gravidez seja resultante de estupro, incesto e defeito congênito, Palin representa tudo o que o feminismo de ontem e de hoje condena.


Para ela, o único contraceptivo válido é a abstinência sexual, nega que o aquecimento global seja causado por atividades humanas e aprova a inclusão do criacionismo nos currículos escolares.

Um ideal de cultura moralista autoritário que reduz a mulher à condição de objeto, contra a qual historicamente se insurgiu o feminismo. Sob a capa moral da defesa à vida, a condenação ao aborto e a abstinência sexual refletem nada menos que o patriarcalismo medieval com o conseqüente controle político e jurídico do corpo feminino.


Camille Paglia distorce o sentido ideológico do feminismo (questionar a organização social e o nível de liberdade e protagonismo da mulher), desvia o sentido urgente do debate (a supressão dos direitos humanos de milhões de mulheres no mundo atual) e deforma a postura político-ideológica da candidata a vice dos republicanos. Faz do atraso inovação, torna o obscurantismo uma força positiva e da burrice redenção.

sábado, 20 de setembro de 2008

GOVERNANÇA IMORAL

EUA descartam lixo eletrônico em países em desenvolvimento

Relatório informa que país viola regras da Agência de Proteção Ambiental ao descartar produtos para países em desenvolvimento.
Por IDG News Service
20 de setembro de 2008 - 09h01

Empresas de reciclagem dos Estados Unidos estão enviando eletrônicos com substâncias tóxicas a outros países, sem preocupação em seguir regras e proteger pessoas e o meio ambiente, diz relatório do U.S. Government Accountability Office (GAO).

Segundo as regras da Agência de Proteção Ambiental (EPA) do país, só é permitida a exportação de monitores CRT (do inglês cathode ray tube), e não outros equipamentos com o sistema.

CORRIDA À CASA BRANCA

La carrera hacia la Casa Blanca

Obama alerta contra el 11-S económico
El candidato demócrata ofrece pactar el plan de rescate de Wall Street ante una situación de "emergencia inmediata" - McCain se resiste y culpa a Washington
ANTONIO CAÑO - Washington - 20/09/2008

Describiendo la situación como de "emergencia inmediata", el candidato demócrata a la presidencia de Estados Unidos, Barack Obama, se saltó ayer el guión de la campaña para ofrecer a su contrincante, John McCain, al presidente George Bush y al Congreso pactar un plan para acudir en socorro del sistema financiero y evitar una catástrofe de proporciones impensables. Tanto Obama como McCain advirtieron de la necesidad de actuar ya, sin esperar a la toma de posesión del próximo presidente el 20 de enero.

Obama, que tenía previsto presentar ayer propuestas detalladas para afrontar la crisis, renunció a hacerlo, según dijo, para no añadir confusión y elementos de distracción a la tarea fundamental de salvar al país de lo que se vive como un 11-S de su economía.

En lugar de eso, el candidato demócrata mostró su respaldo a las medidas anunciadas poco antes por el secretario del Tesoro, Henry Paulson, quien anticipó la probabilidad de tener que destinar "cientos de miles de millones de dólares" para comprar las hipotecas que están en el origen de este problema y sacar adelante las maltrechas firmas de Wall Street.

(EL PAIS)

PATO MANCO LEVA CULPA PELA CRISE

Deu no New York Times: Economistas
responsabilizam Bush pela crise

POR WALTER GALVÃO

O destaque neste sábado do noticiário político e econômico no "The New York Times", principal jornal dos Estados Unidos, e um dos mais importantes do mundo, é a responsabilização do presidente Goeorge Bush pela quebradeira da economia a partir da crise das hipotecas.

Tudo bem que Bush é um filhote de ameba com telefone, uma encarnação do Brinquedo Assassino com armas nucleares, um boçal que sempre falou o que lhe mandaram, um irresponsável. Mas não dá pra depositar na conta dele toda essa bagunça que está engolindo bancos como macaco engole bananas.

Mais certo é atentar para a irresponsabilidade pura e simples dos chefões do mercado imobiliário e do sistema financeiro. Gente dos mundos público e privado. A disponibilidade de dinheiro resultante da recuperação parcial da economia pós-11 de setembro fez com que os bancos resolvessem acolher os inadimplentes de toda ordem garantindo-lhes crédito para recomeçar um cadastro.

Não deu outra: inadimplência gera mais inadimplência. E o que se viu é o que se vê: atoleiro financeiro que igual a um buraco negro atrai a energia da estabilidade de quem fez o dever de casa quanto ao equilíbrio gerencial no capitalismo globalizado.

Bush é o pato manco, a bola da vez para escorraçmento geral. Mas querer atribuir-lhe toda a responsabilidade pela crise é jogar o boi de piranha pra que a gatunagem perfumada atravesse incólume o mar de dejetos que ela própria produziu e jogou no ventilador do mercado.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

CLÓVIS ROSSI E A CRISE GLOBAL

Parem o mercado, querem descer

POR CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Dois momentos, separados por escassos 14 meses, dão uma idéia perfeita da marcha acelerada da crise global .

Momento 1 - Na cúpula do G8, em junho de 2007, o governo alemão, o anfitrião de turno, queria que fosse discutido algum tipo de código de conduta para os agentes do mercado financeiro, em especial para os "hedge funds", esses que apostam em diferentes ativos para se proteger caso uma (ou mais de uma) das apostas dê errado. Seria uma espécie de auto-regulação. Explicava à época o ministro alemão de Finanças, Peer Steinbrueck, que tais fundos especulativos representam "um risco sistêmico".

Por quê? Simples: "Alguns deles estão alavancados cinco, seis ou até sete vezes, o que significa que os credores podem ser seriamente prejudicados se um desses fundos se tornar insolvente", explicava Steinbrueck. Ou seja, previa tudo o que viria logo depois (a crise, então chamada modesta e incorretamente de "crise das subprime", estourou em agosto, dois meses depois). Os Estados Unidos rejeitaram a proposta alemã. Deu no que se vê.

Momento 2 - O presidente da poderosa Confederação Espanhola de Organizações Empresariais, Gerardo Díaz Ferrán, fez anteontem a seguinte declaração: "Creio na liberdade de mercado, mas, na vida, há conjunturas excepcionais. Pode-se fazer um parêntesis na economia de livre mercado". Passou-se, pois, em meros 14 meses, de uma proposta de auto-regulação, típica medida de mercado, à impossível hibernação do próprio mercado.

Não se aceitou a primeira porque os governos, todos, têm medo do mercado e não o enfrentam. E, para executar a segunda, seria preciso que houvesse um estadista disponível no mercado de governantes capaz de apresentar alguma idéia, uma que fosse, para organizar a farra. Você conhece algum?

Transcrito de A FOLHA DE S. PAULO 19 09 08

ALBERTO DINES SOBRE MÍDIA E CRISE

CRISE ECONÔMICA / Muda tudo, inclusive a indústria do jornalismo

Por Alberto Dines em 16/9/2008

Ainda não foi escolhido o cognome com que o último fim de semana (13-14/9) entrará para a história econômica. É uma questão de dias – ou horas – até que se encontre o nome-fantasia apropriado para uma catástrofe que se anunciava claramente há mais de um ano e que os experts (inclusive na imprensa) teimavam em ignorar.

A ruína do banco Lehman Brothers, fundado em 1844, não é simbólica, não se trata apenas do fim do capítulo sobre os gigantescos bancos criados por imigrantes alemães no interior americano. Trombetear o fim do capitalismo é bobagem, instituições ou sistemas só podem ser consideradas tecnicamente encerradas quando há substitutos aptos. O suplente do capitalismo ainda não foi inventado e dificilmente o será algum dia.

No fim de semana arrancaram-se as derradeiras lantejoulas de um sistema financeiro que para se proteger, estufou, estufou até que arrebentou. A crise hipotecária americana não foi avaliada com a devida seriedade – pelas consultorias, agências de risco e a imprensa especializada – porque o sistema financeiro compreende vários níveis de negócio.

Mesmo em dias de quebradeira de bancos hipotecários há gente apostando no futuro, ganhando rios de dinheiro na própria débâcle do mercado.

Perigo das bolhas

O sistema se realimenta continuamente, o negócio de negociar com dinheiro – o próprio ou de outros – não admite lutos ou folias. Bolsas disparam e despencam, mal-humoradas ou bem-humoradas, independentemente da real situação dos mercados. Dentro de dias um especulador pode mudar drasticamente os tétricos índices da segunda-feira (15/9) sem tocar no mercado hipotecário americano ou no sistema mundial de refinanciamentos.

A imprensa não consegue mostrar esta complexidade. Nem jamais teve esta pretensão porque, para isso, deveria adotar uma postura rigorosamente crítica. Não necessariamente marxista, mas cética, militantemente cética. Não apenas no que respeita às crises em si, mas, sobretudo, no tocante ao mecanismo de criação de modismos, tendências e seu produto final, obra-prima do efêmero contemporâneo – as bolhas.

Alertar para o perigo das bolhas equivaleria desestimular o consumismo, o turismo e a falsa noção de que a felicidade só é possível num apartamento duplex com piscina olímpica. Quem agüenta viver sem a esperança de hospedar-se no Crillon de Paris, quem abdica do direito de sonhar com um Land Rover ou mini Sony Vaio?

Nem a mídia nem os mediadores – sobretudo estes – têm suficiente estofo (ou rabugice, dá no mesmo) para dizer aos concidadãos que estão sendo enganados quando governantes, experts e outros jornalistas garantem que uma catástrofe como a do último fim de semana será rapidamente contornada.

***
Os portais de notícias brasileiros no domingo (14/9) à noite eram um show-room do tal jornalismo do futuro. Com exceção de um par de especialistas de plantão, os veículos digitais – estes que estão sendo solenemente apresentados como substitutos dos jornalões e revistões – cuidavam do futebol, da Fórmula-1, da fofoca, dos cataclismos climáticos e da Bolívia; afinal, não se deve desperdiçar fotos de confrontos armados, lembram filmes de ação. Nenhum sinal do que acontecia nos EUA e dentro de horas seria manchete da imprensa mundial. Fácil entender: a bolha hipotecária e a bolha digital foram fabricadas pela mesma febre. Não se sabe exatamente o que vai mudar. Talvez a velocidade.

FONTE Observatório da Imprensa