quinta-feira, 25 de setembro de 2008

MUNDO DO TRABALHO

A democracia entrou na fábrica

POR LEONARDO BOFF

Indubitavelmente a democracia é o melhor modelo de organização poliitica que a humanidade já excogitou. No entanto, democracia que convive com miséria e exploração se transforma numa farsa e representa a negação da própria democracia.
Em todas as partes, se procura romper o pensamento único e o modo único de produção capitalista, inventando formas participativas de produção e abrindo brechas novas pelas quais se possa concretizar o espírito democrático. É notório que a democracia sempre parou na parta da fábrica. Lá dentro vigora, com elogiosas exceções, a ditadura dos donos e de seus administradores.

Recentemente, tive a oportunidade de assistir o exercício democrático de produção dentro de uma fábrica de cerâmica na cidade de Neuquén no sul da Argentina, na porta de entrada da Patagônia. Trata-se da Cerâmica Zanon, que pertencia a um grupo econômico multinacional, cujo dono principal era Luis Zanon, da empresa Ital Park, testa de ferro da privatização das Aerolineas Argentinas e um dos cem empresários mais ricos na Argentina. Este empresário, em 2001, estava prestes a decretar a falência da empresa. Chegou a demitir 380 operários.

Os operários resistiram. Todos os intentos por parte da polícia de desaloja-los foram frustrados. Os operários assumiram a direção da fábrica de forma democrática, organizaram a complexa produção de cerâmica, de alta qualidade, com maquinaria moderna de origem italiana. Decretada a falência em 2005, trocaram o nome da fábrica. Agora se chama “Fasinpat”(fabrica sin patrones). Democraticamente ajustaram os departamentos, introduziram a rotatividade nas funções para todos poderem aprender mais, fizeram parcerias com a universidade local. Não só. A fábrica não se reduz a produzir produtos materiais mas também cultura, com biblioteca, visitação de escolas, shows multitudinários no grande pátio, colaboração com os indígenas mapuche que ofereceram sua rica simbologia assumida na produção. Lá trabalham 470 operários produzindo mensalmente 400 mil metros quadrados de vários tipos de cerâmica de comprovada qualidade.
Como se depreende, a democracia pode sempre crescer e mostrar seu caráter humanizador.

Trechos de artigo publicado na revista Forum Global. Texto completo aqui.

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