sábado, 4 de outubro de 2008

PENSAMENTO POLÍTICO HOJE


O socialismo no século 21
POR BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS
O socialismo do século 21, como o próprio nome indica, define-se, por enquanto, melhor pelo que não é do que pelo que é: não quer ser igual ao
socialismo do século 20, cujos erros e fracassos não deseja repetir.

Não basta, porém, afirmar tal intenção. É preciso realizar um debate profundo sobre os erros e fracassos para que seja credível a vontade de
evitá-los. Se tal desidentificação em relação ao socialismo do século 20 for levada a cabo, alguns dos seguintes traços da alternativa deverão
emergir:

1.Um regime pacífico e democrático, assentado na complementaridade entre
democracia representativa e democracia participativa;
2.Legitimidade da diversidade de opiniões, não havendo lugar para a
figura sinistra do "inimigo do povo";
3.Modo de produção menos assentado na propriedade estatal dos meios de
produção que na livre associação de produtores;
4.Regime misto de propriedade em que coexistem propriedade privada,
estatal e coletiva (cooperativa);
5.Concorrência por um período prolongado entre a economia do egoísmo e a
economia do altruísmo, digamos, entre Microsoft Windows e Linux;
6.Sistema que aprenda e saiba competir com o capitalismo na geração de
riqueza e lhe seja superior no respeito à natureza e na justiça
distributiva;
7.Nova forma de Estado experimental, mais descentralizada e
transparente, de modo a facilitar o controle público do Estado e a
criação de espaços públicos não estatais;
8.Reconhecimento da inter-culturalidade e da pluri-nacionalidade (onde
for o caso);
9.Luta permanente contra a corrupção e os privilégios decorrentes da
burocracia ou da lealdade partidária;
10.Promoção da educação, dos conhecimentos (científicos e outros) e do
fim das discriminações sexuais, raciais e religiosas como prioridades
governamentais.

Será tal alternativa possível? A questão está em aberto. Nas condições
do tempo presente, parece mais difícil do que nunca implantar o
socialismo num só país, mas, por outro lado, não se imagina que o mesmo
modelo se aplique em diferentes países. Não haverá, pois, o socialismo,
e sim os socialismos do século 21. Terão em comum reconhecerem-se na
definição de socialismo como democracia sem fim.
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BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS , 66, sociólogo português, é professor
catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
(Portugal). Escreveu, entre outros livros, "A Gramática do Tempo: para
uma Nova Cultura Política" (Cortez, 2006).
ARTIGO RESUMIDO. TEXTO COMPLETO AQUI.

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