quarta-feira, 8 de outubro de 2008

SAÚDE PÚBLICA


Ganhadores do Nobel
de Medicina elogiam
programa antiaids do Brasil
Publicado em 08.10.2008, às 16h11


Os médicos franceses vencedores do prêmio Nobel de Medicina de 2008, em reconhecimento à descoberta do vírus HIV nos anos 1980, elogiaram nesta quarta-feira (8), em Paris, a política de atendimento universal e gratuito de pacientes infectados, o uso de medicamentos genéricos e a luta por drogas mais baratas no Brasil. Para Luc Montagnier, entretanto, o país precisa evoluir na atenção às pessoas que portam o vírus, mas que desconhecem o contágio, não são tratadas e continuam a disseminar a doença.

Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi foram informados na segunda-feira (6) de que haviam recebido o Nobel de Medicina, concedido pelo Instituto Karolinska, de Estocolmo, na Suécia. Apenas hoje (8), porém, retornaram a Paris, onde foram homenageados no Instituto Pasteur e na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), antes de serem recebidos pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy. Os dois estavam em compromissos no Camboja (Ásia) e na Costa do Marfim (África), quando receberam a notícia de que dividiriam a edição de 2008 da honraria com o médico e pesquisador alemão Harald zur Hausen, descobridor do papilomavírus humano - causador do câncer de colo de útero.

Em entrevista na sede da Unesco, hoje (8) à tarde, Françoise e Montagnier defenderam esforços governamentais - mesmo em meio à crise financeira - para que a meta de universalização do atendimento a pacientes portadores do HIV seja alcançada até 2010. Questionados pela reportagem sobre a eficiência do Programa DST/Aids do Ministério da Saúde do Brasil, os cientistas elogiaram a política. "A comunidade internacional felicita com razão o tratamento universal aos pacientes com o vírus no Brasil", disse Françoise. "Temos também de louvar a briga pela utilização de medicamentos genéricos, mais baratos. É verdade que o Brasil se mostra um exemplo."

Em setembro, o Ministério da Saúde voltou a evocar regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) para derrubar as patentes do laboratório norte-americano Merk. Com a medida, o país poderá produzir genéricos do Efavirenz, um dos 17 remédios do coquetel antiaids previstos no protocolo médico nacional de aids.

Em tom mais crítico, Montagnier pediu a palavra a fez uma ressalva ao programa, que trata 200 mil pacientes no país. "O Estado brasileiro decidiu tratar há muito tempo todos os seus pacientes contaminados pelo HIV. Mas o problema é que o que são declaradamente portadores são tratados. Os que não são declarados, ficam fora de circuito, em especial índios da Amazônia, que não têm acesso aos medicamentos."

Françoise se disse emocionada pelo reconhecimento ao trabalho de uma equipe multidisciplinar formada no Instituto Pasteur no início da década de 1980. "Tenho certeza que Montagnier compartilha da emoção que toma todas as equipes multidisciplinares que se mobilizaram rapidamente para investigar o que se passava no início dos anos 80", disse a primeira mulher a receber o Nobel de Medicina na história. "Penso também nos doentes que se propuseram à época a nos ajudar a encontrar o caminho da pesquisa. Eles não estão mais conosco, porque não puderam usufruir dos avanços representados pelos anti-retrovirais."

Montagnier também lembrou as adversidades que o grupo de pesquisadores enfrentava à época da descoberta do HIV. "Desde os anos 60, houve um grande trabalho universal sobre os retrovírus em animais que nos permitiu alcançar nossos objetivos nos anos 80", lembrou, projetando: "O trabalho deve continuar. É preciso pensar nos que hoje estão mortos, mas também nos que estão vivos e sofrem. Meu trabalho não está terminado."

A equipe liderada por Montagnier trabalha no desenvolvimento de uma vacina contra a progressão do HIV no organismo contaminado. "Esta doença criou condições para um grande avanço científico que nos encoraja a continuar as pesquisas", ressaltou. O francês também elogiou cientistas que contribuíram para a descoberta, como o norte-americana Robert Gallo, diretor do Instituto de Virulogia Humana da Universidade de Maryland, que também reivindicava a descoberta nos anos 1980.

Fonte: Agência Estado

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